Por Danilo Almeida
Como legítimos protagonistas e exemplos de Cultura e Transformação Social, tema da II Conferência de Cultura Ibero-Americana, diversos Pontos de Cultura estão participando deste evento, juntamente com os representantes de 22 países membros da Secretaria Geral Ibero-Americana (SEGIB), órgão promotor do evento, em parceria com o Ministério da Cultura (MinC) e o SESC-SP.
“A maioria dos países da América do Sul não têm políticas estruturadas para o setor cultural como leis e programas. Nesse aspecto, o programa Cultura Viva implantado pelo Ministério da Cultura do Brasil é um bom exemplo a ser mostrado e discutido”, afirma Afonso Oliveira, do Ponto de Cultura Maracatu Estrela de Ouro, de Pernambuco. Ele conta que o Ponto desenvolve atividades com os mestres da cultura popular para tirá-los do trabalho nos canaviais, além de também promover atividades com os filhos destes como uma estratégia de transformação social: “Trabalhamos para que os Mestres da Cultura Popular não se submetam ao trabalho semi-escravo da cana-de-açúcar. Neste sentido, conseguimos isto com o projeto Usina Cultural Estrela de Ouro, além do trabalho com os filhos dos canavieiros no projeto Ponto de Leitura”.
A representante do Pontão de Cultura Convivência e Paz, Veridiana Negrini ressaltou sua expectativa com relação ao encontro: “Espero que seja um espaço para a formação e o fortalecimento de políticas públicas culturais, com toda a sua capacidade de promover o desenvolvimento econômico e social”. Ela complementou o assunto ao ressaltar que este encontro está sendo “um espaço realmente de muita troca e compartilhamento de saberes, já que se pretendem ressaltar as potencialidades da cultura ibero-americana”.
Veridiana vai ao encontro do que Afonso Oliveira ressaltou sobre a dimensão do programa Cultura Viva e a oportunidade de divulgá-lo e espalhá-lo por outros países da América Latina. “Eventos como este nos permitem divulgar e esclarecer o que nos cabe, em relação a este programa”, afirma.
Transformação Social
Célia Pinheiro, do Programa de Integração pela Música (PIM), diz que o encontro “é simplesmente maravilhoso e significa uma importante troca de experiências, para o fortalecimento da rede”. Ela lembra que do programa, existente desde o ano 2000 e que atendeu a mais de 3000 jovens, saíram cantores de coral, monitores de violino e clarineta, por exemplo.
“Dos jovens atendidos alguns se tornaram profissionais, estão concluindo faculdade de música e outros ingressaram em áreas diferentes, porém ainda utilizando a música como principal ferramenta de transformação de suas realidades”, conta.
A organização Atitude Jovem, que desenvolve suas atividades na cidade satélite Ceilândia, no Distrito Federal, enviou uma representante para São Paulo. Flávia Nascimento destaca o papel da cultura e dos Pontos na transformação social. “O nosso Ponto de Cultura se faz por um posicionamento político do fazer participativo, do construir políticas publicas e buscar mudanças para uma vida melhor. Não existem peças de teatro, músicas e grafites que não carreguem um conteúdo político da transformação social que queremos”, disse.
Ela conta o que espera como resultado do trabalho desenvolvido pelo Ponto de Cultura: “Temos feito reuniões com público local, formamos o Fórum de Cultura Urbana e acreditamos que estamos construindo um caminho sem volta da participação da comunidade e da transformação social.
Expectativa de quem já trabalha em outros países
O Centro de Teatro do Oprimido (CTO), presente em mais de 50 países, também enviou um representante ao congresso. “Para o Centro de Teatro do Oprimido, estar presente neste evento fortalecerá o vínculo e a troca com estes países, além de potencializar as pontes que o Teatro do Oprimido e outras linguagens artísticas possuem, buscando uma real transformação através das ações culturais concretas”, declara o sociólogo Geraldo Britto.
O CTO já desenvolve atividades, inclusive, em países africanos e Geraldo lembra a importância do encontro para a consolidação das políticas culturais no país. ”O Brasil começa a voltar sua face para a América Latina e África. Quanto mais nos conhecermos mais nos fortaleceremos”, conclui Geraldo.
El Quijote, by Ponto de Cultura Pombas Urbanas
Escrita pelo espanhol Miguel de Cervantes em 1605, a obra Dom Quixote conta a história de um fidalgo que depois de ler histórias de cavalaria medieval resolve fugir de casa em busca de aventuras. Para isso, ele usa uma armadura enferrujada, pega um cavalo e segue em busca de aventuras. Essa obra terá uma adaptação encenada por membros do Ponto de Cultura Pombas Urbanas durante o congresso em São Paulo, às 20h do dia 2 de outubro.
A adaptação que já tem dez anos faz um diálogo com a cultura espanhola dos séculos XIV e XV. Do colombiano Santiago Garcia, recebe o nome de El Quijote e será encenada pelos grupos da “Red Latinoamericana de Teatro en Comunidad” que reúne representantes de 10 países em sua montagem. Na verdade, a estréia da peça no Brasil marca o lançamento da organização que se articula desde 2005.
Curiosamente, a primeira vez em que Dom Quixote encenado foi 1607 no Peru. Ao longo da história foram mais de 100 adaptações da obra, teatralizada de diferentes formas nos países latino-americanos.
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